sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Meu Travesseiro, Meu Amigo

Se meu  travesseiro pudesse falar
Ele contaria quantas noites passei em claro
Chorando...
Angustiada, agoniada
Ardendo em brasa
Queimando por dentro 
Se ele tivesse armazenado
As lágrimas de amor, e de dor
Que dos meus olhos ele secou
Daria para encher um oceano
Olhando para ele
Eu cantei e contei
Os meus mais secretos segredos
Ele sabe tudo sobre
Os meus mais intimos desejos
Para ele sussurrei nomes
Mas apenas dois
Foram os que ele de fato conheceu
Entreguei a ele
Os meus mais doces pensamentos
E quantas vezes ele acomodou
A minha cabeça cheia de planos
Meus devaneios e sonhos
Quantas vezes disparei contra ele
Tiros de loucura
E enquanto eu o agredia
Com os meus acessos de raiva
Ele acariciava a minha face
Limpando a maquiagem borrada
Das tantas noites de bebedeira
Enquanto a cama, leviana
Insistia em rodar
Eu sabia que ele estaria ali
Sempre no mesmo lugar
Firme como rocha a me esperar
Eu nunca ousaria substituí-lo
Não tenho outro, assim, fiel amigo
Não me importo por ele ser
Completamente mudo
Porque ele...ninguém mais
Será sempre o ÚNICO
A me ouvir atento
Calado
Mas se ele pudesse falar
Eu desconfio...
Talvez me cobraria caro o aluguel
Por muitas horas de terapia
E eu sei, ah, como eu sei
Não teria como pagar.

(Mellinda Margoth)

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