Por Giselle Vergna.
Estamos a 16 dias das eleições, e aqui na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, tenho notado as pessoas pouco animadas com a política, de um modo geral. O assunto mais comentado nas ruas do bairro é sobre a candidatura de Francisco Everardo Oliveira Silva de 45 anos. Você não sabe quem é? Isto não é nenhuma surpresa para mim!
Confesso que, se eu ouvisse este nome por ai, pensaria que é um candidato igual a qualquer outro. E digo mais: com certeza, se eu o visse andando na rua, sem os apetrechos exageradamente coloridos com o que ele costuma se caracterizar, jamais eu o reconheceria. Pois bem, o candidato em questão, ficou conhecido como Tiririca nos quatro cantos do país ao emplacar em 1996, a música “Florentina Florentina”.
Tiririca é candidato a deputado federal pelo Partido da República (PR). Sabe apenas ler e escrever, diz que não tem idéia do que faz um deputado federal, se auto entitula “o abestado”, e, pasmem: seu slogan de campanha já é considerado um dos mais repetidos pelos eleitores. “Vote no Tiririca, pior que tá, num fica!”
Foi a primeira resposta que ouvi de Rosangela M. S. Heyek (41 anos/Do Lar), ao questioná-la sobre como ela estava encarando as eleições 2010. Rosangela, ainda rindo de sua resposta, me confessou: ” – Estou perdendo a fé em toda essa coisa de política, eleições e governo. Toda eleição é a mesma ladaínha. Eles prometem mundos e fundos, se elegem e depois esquecem as promessas que fizeram. A saúde não é a maravilha que dizem que é, no horário político, e aqui no bairro, estão construindo cada vez mais prédios para as pessoas virem morar. Mas estão se esquecendo da infraestrutura como a ampliação do transporte, por exemplo”. Rosangela reclamou também da educação: ” – Minha filha Fernanda, de 14 anos, foi fazer uma prova recentemente para o processo seletivo na escola Objetivo e não passou, Não ficou nem na média. Ela me disse que na prova, caíram questões sobre as quais ela não aprendeu na escola pública onde estudou”.
Outro depoimento que me chamou a atenção de uma forma negativa, e já começou com a frase categórica: ” – Odeio política!”, foi o depoimento de Johnny F. Gomes de 21 anos, Professor de Desenho: ” – Tenho título de eleitor desde os 16 anos e desde então, voto em branco ou anulo. Não voto em ninguém, porque acho que isso é uma forma do governo lucrar às custas do povo. Enquanto uns candidatos ficam trocando acusações e contando mentidas na propaganda eleitoral, outros fazem palhaçadas para zoar com a nossa cara. Tudo isso é uma palhaçada, nunca muda, só piora. Uma prova disso é o Tiririca ser candidato a deputado federal”. – Mas você não acha que votando em branco ou nulo, você acaba contribuindo para que situação piore? ” – Não é o meu voto que vai fazer a diferença, meu voto não vai mudar nada, não vai fazer falta!”
Já Eduardo Marinho, tem 26 anos, é “Escritor de Graffiti” e mais conhecido no bairro como “Credo”. Ele me disse que está cansado de ouvir os mesmos assuntos nas propagandas políticas. ” – As promessas não mudam. Saúde, educação, transporte, trânsito, habitação não deveriam mais ser abordados em suas propostas porque esses itens são básicos a que a população têm direito, e obrigação de todos os governantes. Sobre isso, não deve-se mais discutir, e sim, fazer e pronto! Quero ver mais propostas para os esportes e para a cultura, que são quesitos nos quais eu acredito que ajudam as pessoas crescerem pessoalmente e ampliarem seus horizontes.
Considerando todas as abordagens que fiz aos moradores da Cidade Tiradentes durante esta semana, concluí que a maioria dos eleitores se mostram indiferentes ao que é discutido no horário político ou em debates entre os candidatos. Separei esses três depoimentos acima porque, apesar dos três também citarem a mesmice dos candidatos, eu consegui prendê-los por alguns minutos durante a entrevista e até desenvolver uma conversa. Enquanto que a maioria das pessoas que eu abordei, me deixaram falando já na primeira pergunta, dizendo: ” – Política não é comigo.” Acredito que esse comportamento de apatia do povo às questões políticas já vem se arrastando há alguns anos. E o fato de um palhaço abestado que também é mágico, mesmo só sabendo ler e escrever, estar na disputa pelo cargo de deputado federal, contribuiu ainda mais para a população fechar os olhos, virar as costas para a política e fingir que está tudo bem.
Um comentário:
Xiiiiiiii... Ninguém gosta de política aí?! É assim que funciona. Quanto menos se sabe, melhor pra eles! Já que nosso país tem voto obrigatório, as pessoas votam desacreditadas. Se ficar bom, ótimo. Se não ficar, ótimo. Daqui a 4 anos melhora (ou não!)!
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